Terror e terrorismo são conceitos que têm afinidades, mas que não se confundem. Terror é o emprego sistemático da violência como arma de defesa de uma classe que detém o poder, para dissipar qualquer idéia de resistência ou de atividade revolucionária ou contra-revolucionária dos inimigos do regime.

Para o sistema de terror, não existe diferença entre crime tentado e crime consumado, bastando uma simples omissão para ser qualificado de adversário que deve ser exterminado impiedosamente em nome da segurança do governo. No regime do terror o inimigo do governo é automaticamente inimigo do gênero humano, devendo ser eliminado incondicionalmente, sendo co-autores todos quantos tenham conhecimento, mesmo que acidental, de fatos contrários ao regime, sem denunciá-los.

O terror começa sendo empregado como arma contra inimigos e depois entre seus partidários como arma de luta pelo poder. A finalidade do terror é criar o pânico entre os adversários e a certeza de que não sobreviverão em caso de insucesso. A arma predileta do terror é a pena de morte, mas assume outras formas de aniquilamento como proscrições, exílios forçados em regiões insalubres, massacres, migração de populações, criação de situações de absoluta insegurança individual ou familiar, supressão de todas as garantias individuais, campos de concentração, tribunais de exceção, julgamentos sumários e secretos, julgamentos com simulacro de publicidade, pressão sobre juízes ou jurados, amordaçamento dos veículos de informação, genocídios, torturas de todo tipo, polícia secreta, crimes de toda natureza praticados contra o adversário capturado, impunidade total para os autores desses crimes, supressão dos meios de defesa, coação contra os advogados, lavagem cerebral, etc.

O emprego da violência como arma política sempre existiu em todas as épocas, mas somente com a Revolução Francesa é que passou a existir uma fundamentação doutrinária da legitimidade do emprego do terror, depois aprofundada pelo marxismo. Este considera a violência como parteira da história e hoje já se fala até numa teologia da violência. Para o marxismo, nenhuma classe abandona o poder para outra sem lutar, daí a legitimidade da violência política.

As leis marciais e os "comandos" da segunda guerra mundial, participam da natureza do terror. O terror tanto foi usado pela direita como pela esquerda, respectivamente chamado de "branco" e de "vermelho". Os Bourbons utilizaram o terror em 1815 na França contra todos os partidários da Revolução Francesa ou de Napoleão I, o mesmo fazendo Thiers na repressão da comuna de Paris em 1870.

O terror foi objeto de várias polêmicas entre os marxistas, sobressaindo-se a que foi mantida entre Trotzki e Kautski após o advento da Revolução Russa. O terror nunca leva a um regime democrático e, uma vez usado, mesmo que pretensamente justificado por situações críticas, acaba se institucionalizando como forma normal de governar.

Terrorismo é o emprego do terror e terrorista o partidário desse emprego, mas a expressão é mais usada para designar o terror utilizado pelos adversários de um regime, é arma de ataque, usando de atentados a lideres e sabotagem. Tem por objetivo contestar o governo instituído, desmoralizá-lo perante a opinião pública. A pirataria aérea o seqüestro de pessoas representativas são formas modernas de terrorismo.

O terrorismo foi muito empregado pelos anarquistas russos do século passado, que acreditavam na "propaganda pelo fato", e realmente cada atentado contra um czar dava grande notoriedade a pequenos círculos revolucionários.

A execução sumária é a forma mais usada de aplicar a pena de morte, comum ao terror e ao terrorismo. Nos regimes totalitários o terror faz avolumar a importância da polícia secreta, que acaba se transformando num Estado dentro do Estado, e que dentro em pouco acaba sentindo a necessidade de eliminar os seus próprios funcionários que "sabem demais".

Toda classe que emprega o terror se justifica dizendo que somente o faz em revide ao terror iniciado pelo adversário. O terror faz parte de todas as revoluções, porque a condescendência com inimigos favorece a contra-revolução. Todos os grandes líderes sempre reconheceram que o terror em si mesmo é trágico, mas que infelizmente não é possível deixar de usá-lo, e que qualquer discussão acadêmica sobre o terror é totalmente estéril, sendo muito mais importante saber a quem favorece o terror.

A legitimidade do terror participa da sorte das revoluções: é justo quando usado pela classe vitoriosa, é criminoso quando usado pelos vencidos. O terror em si mesmo é sempre criminoso do ponto de vista jurídico, porque consiste em atos que contrariam a mais elementar legalidade.

Robespierre sustentou que não se pode julgar medidas exigidas por uma revolução com código penal na mão, e declarou em um de seus discursos: "Se o atributo do governo popular em época de paz é a virtude, seus atributos em tempo de revolução são a virtude e o terror: a virtude sem a qual o terror é funesto; o terror sem a o qual a virtude é impotente. O terror não é senão justiça rápida, severa, inflexível; é, portanto, emanação da virtude".

Marx e Engels apoiaram a legitimidade do terror. Lênine escreveu: "Os burgueses da Inglaterra esqueceram o seu 1649 e os franceses de seu 1793. O terror era justo e legítimo quando era aplicado pela burguesia a seu favor e contra os senhores feudais, mas se considera monstruoso e criminal quando os trabalhadores e pobres camponeses se atrevem a aplicá-lo contra a burguesia".

Todos os líderes da revolução russa condenavam em geral os atos terroristas individuais, mas apoiavam o terror político ou revolucionário, mas nem todos os membros do partido comunista eram favoráveis ao emprego regular do terror. Os comunistas alemães Kautski e Rosa Luxemburgo eram contra. Esta escreveu: "Nas revoluções burguesas o derramamento de sangue, o terror e o assassinato político eram armas indispensáveis das classes que se revoltavam, mas a revolução proletária não necessita do terror para lograr seus propósitos e odeia e abomina o assassinato".

Verdade seja dita que antes da guerra civil que seguiu-se à revolução russa, os comunistas relaxavam a prisão de contra-revolucionários mediante a simples assinatura de um termo em que se comprometiam a não pegar mais em armas contra o regime. Trotzki era francamente favorável ao terror: "Não vamos entrar no reino do socialismo com luvas brancas e chão encerado", dizendo ainda que é impossível numa revolução conter a fúria popular doutro modo.

Os comunistas russos criaram a Cheka em 1917, encarregada de não julgar, mas de defender a revolução, e que era uma comissão que funcionou até 1922, quando foi substituída pela GPU. Criaram também um tribunal encarregado de julgar de acordo com a "consciência revolucionária". Os franceses criaram por ocasião da grande revolução iniciada em 1789 o famoso Tribunal Revolucionário.

Todos os grandes historiadores da Revolução Francesa, com uma ou outra rara exceção, consideraram inevitável ou justificado o terror, mas se preocuparam muito em explicá-lo como obra da populaça, da ralé e não da massa politizada. Isto se explica de uma forma muito simples: a maioria deles era favorável à Revolução, mas como esta constitui um bloco que não permite aceitação parcial, tinham de reagir contra a tendência da reação em identificar sempre Revolução e Terror, e justificar o terror, mas diminuindo a sua importância como arma de luta política.

No entanto, os lideres da Revolução não tiveram dramas de consciência para adotar o terror, estavam perfeitamente conscientes de seu valor e da sua necessidade, e nunca atribuíram suas conseqüências a camadas menos politizadas do povo. Para eles o terror foi também o suporte político de uma economia dirigida pelo governo, através da limitação dos preços máximos, numa luta contra o encarecimento do custo de vida.

Para todos os revolucionários, inclusive os anarquistas, a violência não é a meta de uma revolução, mas forma de luta que lhes é imposta pelos adversários, pela realidade em que atuam. Napoleão já havia dito que não há revolução sem terror, pois não é possível dizer à classe dominante: Retire-se! O documento supremo sobre violência político-social é o famosíssimo "Catecismo do Revolucionário", cuja autoria se atribui a Necaev, Bakunin e Tkacev, em 1871, onde se preconiza até mesmo o assassinato de revolucionários discordantes da linha do partido anarquista e dos partidos revolucionários rivais!